sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

divagações sobre a dignidade (2)

a morte do meu alter ego sem honra:

"aqui jaz juliana gontijo, uma mulher tola como poucas."

não tardaria para que o silêncio eterno a convocasse para seus domínios. veio a óbito numa ensolarada tarde de domingo após praguejar estranhas maldições contra peixes moribundos à beira da baía de guanabara.

josué, seu cão e único objeto de afeto, contemplou-a com seu olho sadio nesse momento de ruína moral e com desdém caminhou tropegamente com suas três pernas na direção de um indigente grosseiro, que não continha um único dente na boca murcha e padecia de elefantíase e tuberculose.

ao perceber que havia sido abandonada pelo único que tolerava seus ininterruptos atos ignominiosos, seu frágil corpo começou a apresentar sinais de adoecimento. assim, às margens de águas putrefatas e sem nenhum amor, juliana foi dessa para uma melhor com quadro de falência múltipla dos órgãos e muita mágoa.

em seus bolsos foram encontrados um pequeno kit de costura para principiantes, uma pulseira do senhor do bonfim e um osso de procedência desconhecida. e como tudo na vida tem limites, ela se despede no anonimato, com um amargo fim para sua existência sem dignidade.


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