sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

divagações sobre a dignidade (1)

juliana gontijo foi banida do convívio social após a prática contínua de atos tolos e impensados. agora, tal qual plutão foi rebaixado a planeta-nanico, encontra-se em estado deplorável de decadência e humilhação.

a dignidade a abandonou há muito, mas ao menos conserva intactos todos os seus dentes. menos os sisos, que foram devidamente extraídos em uma sanguinária e excruciante cirurgia em outubro de 1999.

nenhum membro da família mantém contato, fora o tio manco e enjeitado que tem sido evitado desde que perdeu o campeonato estadual de cuspe à distância.

sua carreira de cabeleireira está arruinada e todos os famosos que freqüentavam seu salão a trocaram por uma biba menos talentosa, transformando o horário nobre da globo num festival de mullets e permanentes.

juliana procura sem sorte a salvação para sua alma desamparada, já que os amigos lhe fecharam as portas. a sarjeta tem sido sua única companheira. a sarjeta e também rafael, o ex-polegar viciado em drogas. juntos freqüentam o programa do gugu e vagam pelo submundo se alimentando de pentes, pilhas e outros objetos que encontram ao acaso.

freqüentou a igreja evangélica, mas foi expulsa depois de ter sido vista roubando dinheiro do bispo para comprar roupas de grife e tentar penetrar numa festa em são conrado onde faria a única refeição do dia, beberia até se aproximar do coma e perderia a compostura mais uma vez.

espero que juliana possa encontrar honradez novamente, porém, em sua vida nas ruas, ela apenas deseja que seus rins não sejam roubados pela kombi dos órgãos enquanto dorme ao lado de josué, o cachorro perneta e parcialmente cego com quem divide um colchão debaixo de um viaduto em madureira.


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