terça-feira, 13 de maio de 2008

lamúrias de outono

queria dizer alguma coisa, mas ninguém ouve. noto que a calosidade em minhas cordas vocais tornou-se demasiado severa e minha voz abandonou-me. passo horas movimentando tolamente os lábios e gesticulando. as pessoas olham-me intrigadas, mas nem um único grunhido é emitido.

por ora gostaria de ouvir palavras ternas e macias, mas a cera acumulou-se por tantos anos em meus ouvidos que entupiu meu aparelho auditivo. pessoas conversam e movimentam-se passionalmente e as observo com afinco, mas não ouço nada.

queria ver o que reside por trás das linhas imaginárias geográficas, mas não enxergo um palmo à minha frente. um pesco-tapa jocoso transformou-se em grave acidente, atingindo meus nervos ópticos e causando cegueira irreversível. o mundo tornou-se negro e tátil. busco pela luz, mas a escuridão engoliu tudo à minha volta.

seria gratificante ter uma idéia inteligente ou pensamentos bonitos, mas meus neurônios não fazem mais sinapses. tento executar atividades mentais diversas, mas meu cérebro morreu. em lapsos de lembranças de uma vida pré-acéfala, penso em como era simpático o meu inglês, porém agora resta-me apenas um português desdentado e analfabeto.

minha piscina está cheia de ratos e as idéias não correspondem aos fatos. cega, surda, muda e burra, sobrou-me nada mais que devaneios e dois sentidos pouco apurados. para completar, encontro-me gripada, comprometendo ainda mais minhas faculdades orgânicas parcas e débeis.

vagueio por este vasto mundo de deus tentando evitar a tetraplegia e a barriga d'água, para que não perca a capacidade de locomoção e não fique com o abdome protuberante, compondo um pacote verdadeiramente campeão.

pas. tudo oque eu pesso é pas.


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