sábado, 22 de março de 2008

pensamentos de um sábado de aleluia

tenho nada mais que um botão velho no bolso. há tempos que não sei o que é o amor. minha última paixão me trocou, meu vestido mais bonito foi furado por um cigarro e minha família viajou e me deixou à mercê de bandidos picaretas em nova iorque.

restou-me coisa alguma afora a melancolia. e também um criado-mudo, já que contratei um mordomo sem aptidão para fala, que cuida com bastante afinco e elegância do meu apartamento de treze metros quadrados e sem mobília.

não saio de casa há quatro meses, pois os contatos humanos têm me trazido pouco prazer. por vezes me sinto insignificante. penso nos erros do passado e desisto da prática da tolice. atualmente apenas realizo o ócio e a sobriedade.

os amigos me abandonaram. comprei um periquito na semana passada, mas ele morreu de gripe aviária. suas penas arrepiaram-se e por cinco dias tomou a forma arredondada de um repolho, até que entrou em coma e partiu dessa para uma melhor.

minha vida faz tanto sentido quanto uma ovelha lasciva em trajes sensuais sumários, que ouve jazz e come macadâmia.

queria partir para algum lugar remoto, onde não fosse de domínio público que faço uso de perucas para esconder meu crânio pelado e que um dos meus dentes dianteiros é uma prótese.

sempre quis ser aquela que vai embora, mas eu fico. persistentemente eu fico...

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