terça-feira, 3 de novembro de 2009

Os espirra-canivetes

Irto Brito veio à vida a passeio, trajes sumários, bolso furado, coração em frangalhos. No dia de seu nascimento, chorou amniótico pela primeira e última vez. Ali parido, jurou que mulher alguma o faria sofrer novamente. Apesar dos delírios vanguardistas, tinha os pés de Curupira e andava para trás quando queria ir para a frente. Vivia em algum lugar do passado se pensando um pra frentex.

Aos três anos quebrou a perna, mas prendeu as lágrimas e urinou de dor. Vertia fluidos corporais por todos os orifícios que não os do canal lacrimal, achava que a dignidade não era úmida. Suava a camisa, o coitado.

Mais tarde, em sua secura agreste, apaixonou-se por Chica Pó. Moça muda, órfã, chegada a um vestido de chita e viciada em rapé. Odiava espirros porque a lembravam de sua triste condição chincheira. Um dia, Irto teve um espasmo borrifado em sua presença. Estava um poço de melancolia desde que sua porca havia torcido o rabo no arame farpado, morrendo de infecção. Dessa catarse da mucosa nasal, iniciou-se um amor farelento. Nunca chovia neles, era um caso meio farofa, meio empada, do tipo que desce rasgando.

Até que num tropeço sensual, foram virados do avesso. O líquido seminal se espalhou pela terra poeirenta, lubrificando todas as reentrâncias murchas. Enfim, o sertão virara mar.